Ser velhote não é para todos; é um privilégio que só assiste a alguns. Porém, até para isso é preciso ter sorte. Hoje fui visitar o Sr. S., um amigo de longa data da família, um dos primeiros engenheiros informáticos a formar neste país. Tem 80 anos, está sozinho e vive num lar. Está doente, com um gripe + bronquite + coração fraco + tristeza profunda. O filho está longe, não o visita. A I. está longe, mas vem quando pode.
O mais triste de tudo isto foi vê-lo hoje, passadas 2 semanas desde a última visita e no dia do seu aniversário, doente, numa cama, como um velhinho doente à espera de morrer, a render-se e sem vontade de viver. Doeu, mas doeu forte e feio.
Não faltam por aí dissertações sobre o quanto a vida é injusta, e tudo o mais, bem sei; mas não sei se é a vida que é injusta sozinha (tem a sua quota parte, isso tem) ou se as pessoas também contribuem para isso. Contribuem porque ignoram os seus velhos; porque os seus velhos dão trabalho. São chatos, estão sempre doentes, repetem 40 vezes a mesma história, vomitam, etc, etc, etc... mas são os nossos velhos. Os nossos. Não será obrigação incontornável e inquestionável um filho amparar o seu pai na velhice, como o seu pai lhe fez na infância e como ele gostaria que o seu filho lhe fizesse no futuro?
A falta de dignidade é uma coisa terrível. E é uma pena que muitas vezes é quem menos merece que mais sofre.
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